Trabalhei por 9 meses na cidade histórica de Ouro Preto, antiga capital de Minas Gerais. Percorria cerca de 200 km por dia, entre ida e volta. De ônibus. Em uma dessas, na volta, uma estrangeira sentada na primeira cadeira do coletivo, já dentro de BH, parava um a um que passava pedindo informação e, sem sucesso, retornada para o lugar desanimada. Eu costumava descer na Avenida Afonso Pena, em frente ao antigo central shopping. Dei o sinal e fui para perto da porta aguardar minha vez de saltar. Fui abordada pela gringa que perguntou em uma mistura de línguas, português, espanhol, inglês e italiano (não exagero), se ela estava perto da avenida Brasil. Eu respondi que sim, e apontei para avenida que havíamos acabado de cortar. Ela desceu junto comigo. Eu precisava passar no banco, pois não tinha um só centavo. Ela veio atrás de mim. E quando eu estava prestes a atravessar a avenida, aquela senhora de cabelos curtos e loiros, olhos azuis e um pouco mais de 60 anos, me cutucou mais uma vez, me mostrando um papelzinho dobrado. Quando abri, cheguei a me assustar. Nele, escrito a mão, tinha o nome da rua onde eu moro. E ela olhou pra mim perguntando “Dove devo andar?”, apontando para o papel. Notei que o número que seguia naquele endereço no papel, era de um prédio vizinho ao meu. Já achei aquilo tudo incrível, no sentido mais literal da palavra; que não se pode crer. Mas ao contrário, eu cri. Perguntei, em um escasso, confuso e enferrujado italiano, se ela gostaria de seguir comigo de táxi até o local, pois eu morava na mesma rua que ela procurava. Ela topou. Pegamos um táxi e, em uma distância de cerca de 3 km, ela me contou praticamente boa parte da vida dela. Paradas na porta do prédio onde resido, ficamos conversando por mais uns 20 minutos. Ela falava muito rápido e sem parar. E eu tentava acompanhar. Ela estava imensamente agradecida e, enquanto me falava do filho que conheceu uma brasileira e iria se casar. E também da filha que viaja vendendo lenços em uma espécie de micro ônibus, tipo um food truck, porém, sem a parte da comida. Entendeu? Pois então, em intervalos enquanto me falava de sua vida, ela agradecia mais uma vez e outra. Chamei-a para subir. E para surpresa do Alexandre, que não esperava visita, ela aceitou. Ela se sentou com a gente na mesa para tomar um café. Conheceu o apartamento. Elogiou a vista da janela. E foi ficando. Ela foi embora com a promessa que iria voltar antes de partir de volta para Roma, onde vive.
No dia seguinte, eu tinha acabado de chegar do trabalho e toca o interfone. Eu atendo e “pronto”, disse a italiana. Ela chega a minha casa com uma sacolinha de compras: pãezinhos, azeitonas, berinjela, molho de tomate pelatto, óleo de girassol e macarrão, além de uma cervejinha. Ela disse: “Oggi, io cucino per voi”. Ela foi entrando, tomando as rédeas da cozinha e começou a cozinhar, nos ensinando uma receita que ela chamou de “pasta con melanzane a fungheto”. O prato virou uma constante em nossa casa e agora reproduzimos para vocês.
Pasta con melanzane a funghetto
Ingredientes
- 3 berinjelas cortadas em cubos
- 3 colheres de sopa cheia de óleo de girassol
- 30 gramas de alcaparras
- 500 gramas de tomate pelado
- 500 gramas de macarrão radiattore ou farfalle
- Sal e pimenta-do-reino a gosto
- Uma pitada de açúcar
Modo de Preparo
- Despeje a berinjela em cubos em uma sautoir com o óleo e uma pitada de açúcar até que ela murche e dê uma caramelizada
- Tampe e deixe em fogo baixo por cerca de 10 minutos
- Acrescente o tomate pelado e, com a ajuda de uma colher de pau, tente quebrar em pedaços menores os tomates
- Misture e deixe reduzir por mais 10 minutos
- Enquanto isso cozinhe o macarrão até que ele fique "al dente"
- Adicione as alcaparras e acerte o sal e a pimenta
- Misture a pasta com o molho
- Pode ser servido com folhas de manjericão