Desde quando mudamos para o bairro Santa Efigênia em 2011, tivemos vontade de conhecer a Osteria Casa Mattiazzi. Porém, sempre adiamos por algum motivo de rotina. Mas isso precisava mudar a partir de… agora. Tudo começou quando a Kika foi convidada para ir na Casa em um jantar especial com o chef Ezio Pellizon, de Veneza. Ele fez um jantar tão maravilhoso, que quando ela chegou em casa e contava cada detalhe do cardápio, eu me sentia cada vez mais interessado no restaurante.
Durante a semana, depois de um dia cheio de trabalho, e com nossa pequena de quase 1 ano e meio, decidimos … eu ir e a Kika voltar no Osteria. Mas dessa vez para provar o cardápio da casa. Confesso que foi um pouco estressante. Malu estava muito inquieta e queria andar pelo restaurante e na rua. Mal conseguíamos conversar ou comer juntos, porque tínhamos que dar atenção a ela. E era dia de jogo do Cruzeiro, para aumentar mais ainda a tensão. Não foi uma boa ideia. Ainda assim, a comida valeu a pena. Vamos contar:
De entrada pedimos um “Brie Al Forno”, um queijo tipo brie assado com geleia de jabuticabas, maçã caramelizada e salame crocante. Para a Kika que é apaixonada com queijos valeu a noite, mesmo que com alguns tropeços. O brie não estava por completo derretido, chegou um momento que ele estava bem frio, inclusive. E o que nos levava às nuvens, de repente, ficou desagradável. Conseguimos solucionar o problema pedindo o garçom para voltar o queijo um pouquinho mais ao forno. A maçã caramelizada, se vendessem porções dela, eu pediria pelo menos umas três por noite. O salame eu dispensaria.
Uma colega de trabalho da Kika havia recomendado o tagliatelle com tinta de lula e frutos do mar. Ela aceitou a sugestão e foi seu pedido principal. Eu decidi experimentar o Carré de Agnello in Crosta di Pane e Senape Dijon, que é o carré de cordeiro em crosta de mostarda Dijon e pão, acompanhado de tagliolini na manteiga de ervas.
A apresentação de ambos os pratos nos surpreenderam. Bom, não é costume comer nada muito escuro, um prato todo escuro, quero dizer. Há sempre muita cor ou contrastes. Imagino que este seja o motivo do tagliatelle chegar flamejando à mesa. Isso mesmo, em chamas e embrulhado em um papel alumínio. Isso também garante o prato aquecido até a última garfada. O carré ali, em pé, também é um bem bonito. Muito convidativo. De sobremesa pedimos a panna cota com calda de frutas vermelhas. Esta gostosa sim, mas a calda não nos pareceu fresca, então não fica aquela apresentação bonita e com cores vivas, além de alterar um pouco o sabor.
Os fundos do restaurante tem uma área, que, para nós, é a mais aconchegante do local. Uma vez acomodado ali, o assunto em qualquer mesa ao redor, sempre voltava sobre alguma experiência com a Itália, mesmo que seja de um documentário visto na TV ou um vídeo na internet, ou ainda, claro, aquela viagem inesquecível. Isso é simplesmente maravilhoso, mas também perigoso. Pois, estar em um lugar onde o ambiente, por si só, já chacoalha sua memória, a expectativa pela comida só aumenta. Ela foi de spritz, a linda e alaranjada bebida italiana servida com espumante e aperol, e eu de vinho tinto (taça). Nesse dia sentimos os garçons pouco amigáveis e cansados, mas em momento algum nos destrataram ou lhes faltou paciência. Outro ponto negativo que notamos é que não há acomodação para crianças pequenas,como aquelas cadeirinhas altas com cinto de segurança.
Que a casa é um pedaço de Veneza em Belo Horizonte é indiscutível. Clima intimista, decoração rústica que nos remete às tradicionais osterias da cidade dos canais e das gôndolas. Escondida em uma rua tranquila em um dos bairros mais antigos de Belo Horizonte, a Casa Mattiazzi recebe clientes como Chico Buarque, quando o músico aparece pela capital mineira. E apesar dessa localização distante de uma área com esse tipo de serviço, achamos a ideia interessante de afastar dos centros de comércio uma osteria italiana, torna o local mais típico ainda. Mas será que vale o preço que cobra? Vamos descobrir.
Na segunda chance que demos à casa – vale ressaltar que isso foi necessário e não por apenas algum problema com o restaurante, mas por nossas condições no dia – foi uma noite em família. Éramos seis (tipo o romance, risos), contando novamente com a pequena. Resolvemos experimentar novos sabores. De entrada, dessa vez, pedimos o Antipasto Milano. Uma combinação de queijos, pães e embutidos. O prato é delicioso mas peca bastante na quantidade. A porção deveria ser mais generosa para um preço tão alto. Tinha bastante espaço vazio no vasilhame.
A Osteria faz parte da Associação dos Restaurantes da Boa Lembrança. O fundador da Associação resolveu estimular o hábito de se levar uma lembrança depois de uma boa refeição. Foi assim que surgiu o Prato da Boa Lembrança, uma peça exclusiva em cerâmica que você leva para casa depois de comer em um dos restaurantes associados. É óbvio que minha mãe iria querer um desses. Mas para ganhá-lo você tem que comer o prato ao qual ele corresponde, e não era o que ela queria. E é tão óbvio também, que meu pai faria esse serviço por ela. A receita era um strigoli com pomodorini e stracciatella.
A ideia era ninguém pedir um prato repetido, queríamos ver e provar o máximo de tempero e apresentações da Casa. Linguini com camarão, aspargos e limão siciliano; posta de bacalhau com purê de barra com tomatinho confiado; camarão rosa envolto na pancetta e risoto pomodori; tagliolini com manteiga de ervas e filé ao vinho. De sobremesa, dividimos um petit gateau e um semifredo.
O atendimento estava excelente, a casa um pouco vazia e ficamos com o salão dos fundos praticamente por nossa conta. O maitre, que da primeira vez não se encontrava na Casa, agora, garantiu que o serviço fosse prestado da melhor forma possível. Os garçons interagiam mais e foram ágeis e prestativos, explicaram todas as dúvidas com boa compostura. O Sommelier fez um ótimo serviço na sugestão do vinho que, para embalar essa noite na Itália, escolhemos um vinho, claro, italiano. Optamos por um da região dos Marche, nordeste de Roma. O Velenosi Brecciarolo Rosso Piceno é um blend de Sangiovese e Montepulciano e agradou a todos. Frutado e leve, acompanhou bem a entrada e pratos. Se vamos voltar? Claro que vamos. E estamos ansiosos para conhecer as outras casas do Chef Massimo Battaglini.